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Docas do Mercado Público

Docas do Mercado

 

Local de desembarque de trabalhadores escravizados chegados ao estado. Região de intenso trabalho de afrodescendentes livres e escravizados ligados às atividades portuárias e comerciais do porto e do Mercado Público ao longo da formação histórica da cidade. Espaço atualmente carregado de significado para as populações afro religiosas.

 

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Situada no antigo porto da cidade, era o ponto inicial de entrada de escravizados no Rio Grande do Sul. Trata-se de um espaço de rememoração histórica e ancestral para as religiões de matriz africana e para a comunidade negra em geral, onde anualmente acontecem celebrações voltadas à conservação de suas memórias, territorialidades e historicidade. Atividades que fortalecem  a preservação da identidade negra na cidade.

A estrutura da atual Doca do Mercado foi construída a partir da década de 1870, juntamente com o cais de pedra do Porto Velho, porém desde o princípio da ocupação lusitana na cidade a área era utilizada como ponto de atracagem para navios e pequenas embarcações (Torres, 2010).

As margens da Lagoa dos Patos, na região do centro antigo da cidade, abrigava um complexo de espaços relacionados ao trabalho portuário e urbano: diversos trapiches e estacadas (aterros construídos sobre a lagoa, para auxiliar o acesso às embarcações), praias utilizadas para embarque e desembarque e o Mercado Público.

Nestes espaços, o afrodescentende escravizado e livre foi trabalhador fundamental. A cidade de Rio Grande foi um dos maiores centros escravistas do estado do Rio Grande do Sul: em 1842, por exemplo, 41% da sua população era composta por escravizados, e entre eles um elevado número de africanos (Scherer, 2008). Muitos escravizados que seguiam para serem vendidos em outras cidades passavam, igualmente, por essa região das Docas.

O Mercado Público, vizinho às Docas, era um local de intensa vivência popular, onde um diversificado universo de trabalhadores urbanos, rurais e náuticos efetuavam suas lidas diárias relacionadas ao abastecimento de gêneros diversos à cidade. Muitos "botequins" e "casas de pastos" ofereciam refeições e hospedagem aos mesmos. Era também, para estes indivíduos, um espaço de convívio social e de trocas culturais (Oliveira, 2013). 

Atualmente, a área é muito utilizada como espaço de homenagens às divindades e entidades afro-brasileiras, particularmente àquelas relacionadas com as águas. Segundo a Ialorixá Alzenda de Iansã (Nação Nagô, cerca de 75 anos de vivência no Batuque): 

 

"Ali é para se ajoelhar e pedir misericórdia. [...] Ali naquelas escadarias aonde a gente compra peixe foi a porta de entrada do negro. [...]. Ali é tudo para nós. [...] Eu acho que ali tinha até que ter alguma coisa lembrando, uma imagem, um negro, um preto velho, uma negra… sabe? Uma negra com uma bacia, com alguma coisa..." (Alzenda de Iansã, 2017)

 

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Bibliografia:
 

ALZENDA DE IANSÃ. Documentário "A Tradição de Matriz Africana pelos olhos do seu próprio Povo!". Vídeo apresentado na audiência pública sobre os Povos Tradicionais de Matriz Africana, na Câmara Municipal de Vereadores de Rio Grande, em 18/08/2017. Filmagem, edição e produção: Markinhos Jatahy. 

 

OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. Sobre águas revoltas: cultura política maruja na cidade portuária de Rio Grande/RS (1835 a 1864). Tese (Doutorado em História). Porto Alegre: UFRGS, 2013. 

 

SCHERER, Jovani de Souza. Experiências de busca da liberdade: alforria e comunidade africana em Rio Grande, séc. XIX. Dissertação (Mestrado em História). São Leopoldo: Unisinos, 2008.

 

TORRES, Rodrigo de Oliveira. "e  a  modernidade  veio  a  bordo”:  Arqueologia  histórica  do  espaço marítimo  oitocentista  na  cidade  do  Rio  Grande/RS.  Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural). Pelotas:  UFPEL,  2010.

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