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Forte Jesus Maria e José (presídio) - Praça 7 de Setembro

Praça 7 de Setembro (antigo Forte Jesus-Maria-José), Busto de Carlos Santos, Igreja Nossa Senhora da Conceição

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Local carregado de muitas simbologias, possibilitando construir narrativas alternativas - e inclusivas - sobre a história da cidade. Nas imediações da Praça Sete de Setembro foi edificado, em 1737, o Forte Jesus-Maria-José, núcleo que deu origem à cidade, contando com a presença de escravizados desde este momento. A praça abriga atualmente um busto em homenagem ao rio-grandino Carlos Santos, primeiro Governador negro em exercício no Rio Grande do Sul e importante liderança sindical e cultural na cidade. A região contempla ainda a Igreja Nossa Senhora da Conceição, em terreno adquirido no século XIX por uma Irmandade Católica de negros livres criada em 1814.

 

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1) Forte Jesus-Maria-José: 

A construção do Forte Jesus-Maria-José, no ano de 1737, assinala oficialmente o início da ocupação portuguesa que deu origem à cidade de Rio Grande. Embora as narrativas tradicionais se reduzam a retratar o papel do Brigadeiro José da Silva Paes e de seus auxiliares militares na conquista deste território frente às pretensões espanholas, sabe-se que o trabalhador escravizado esteve presente desde os momentos iniciais do domínio lusitano na futura cidade de Rio Grande. Observação que nos possibilita considerar que estes trabalhadores negros foram, também, fundadores da cidade. 

A localização exata deste forte (também denominado de presídio ou fortaleza) não é consenso, mas sabe-se que ficava no entorno da atual Praça Sete de Setembro, que ao longo do século XIX era chamada de Praça do Poço devido a cacimba que abastecia a população com água (Torres, 2004).


 

2) Busto Carlos Santos:

O riograndino Carlos da Silva Santos (1904-1989) foi advogado, deputado estadual e federal, sindicalista e o primeiro Governador negro em exercício no Rio Grande do Sul. Foi ainda o primeiro presidente negro da Assembleia Legistlativa do RS. Atuou ainda como mecânico, caldeireiro, Presidente do Sindicato dos Estivadores, fiscal do Ministério do  Trabalho, fundador e delegado eleitor do Sindicato dos Metalúrgicos, tendo sido uma referência para as lutas pelos direitos dos trabalhadores e por cidadania (Torres, 2004b). Em 1936 fundou o Centro Cultural Marcílio Dias, espaço voltado para a alfabetização da comunidade negra da cidade de Rio Grande (Gomes, 2017; Loner, 2009).

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3) Igreja Nossa Senhora da Conceição: 

Construída sobre o terreno adquirido em 1860 pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, criada por negros libertos em 1814 (Torres, 2017 e 2019; Ribeiro, 2008). Mesmo que a sua construção tenha ocorrido posteriormente, quando a Irmandade já havia sido apropriada pela sociedade branca, a Igreja permaneceu como uma referência para a comunidade afro religiosa da cidade, mediante o acionamento do sincretismo entre N. S. da Conceição e a orixá Oxum. Segundo o relato da Mãe Alzenda de Iansã (Batuque de Nação Nagô), a localidade era um dos pontos da romaria conduzida até a década de 1950 pelas Negras Minas do Bom Fim (Camargo, 2013) .


 

Referências bibliográficas:

 

CAMARGO, Tania Garcia. O culto jeje-nagô e as dimensões educativas ambientais dos mitos yorubás (orixás). Dissertação (Mestrado em Educação Ambiental). Rio Grande: FURG, 2013.

 

GOMES, Arilson  dos  Santos. Carlos  da Silva Santos e suas práticas políticas  contra  a discriminação  racial em clubes sociais  no estado do Rio Grande do Sul (1959-1974). In: PAIXÃO, Cassiane de F; LOBATO, Anderson O. C. (orgs). Os  clubes  sociais  negros  no  Estado  do  Rio  Grande  do Sul. Rio  Grande:  Ed.  da  FURG,  2017. [recurso  eletrônico]

 

LONER, B. A. A Rede associativa negra em Pelotas e Rio Grande. In: SILVA, G. F. da; SANTOS, J.  A.  dos;  CARNEIRO,  L.  C.  da  C.  RS  negro:  cartografias  sobre  a  produção  do  conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. p. 246-261.

 

RIBEIRO, P. A. M., PESTANA, M. B., FONSECA, R. G., & WESKA, T. F. Escavações arqueológicas na igreja Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil. Biblos, 18, 2008. p. 15–46.

 

TORRES, Luiz Henrique. Forte Jesus-Maria-José: fontes historiográficas. Biblos, Rio Grande, 16: 191-200, 2004.

 

TORRES, Luiz Henrique. Carlos Santos: trajetória biográfica. Porto  Alegre: CORAG, 2004b.

 

TORRES, Luiz Henrique. A Irmandade da Conceição. Dez. 2019. Disponível em: https://historiaehistoriografiadors.blogspot.com/2019/12/irmandade-da-conceicao.html

 

TORRES, Luiz Henrique. Igreja da Conceição. Jul. 2017. Disponível em: https://historiaehistoriografiadors.blogspot.com/2017/07/igreja-da-conceicao.html

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