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Negras Minas do Bom Fim

As negras Minas do Bom Fim


 

As Minas do Bom Fim foram três mulheres negras que residiam aos fundos da Igreja do Bom Fim e que se destacaram na memória afro religiosa por realizarem rituais em frente a esta igreja até meados da década de 1950. Atualmente a comunidade afro religiosa da cidade realiza um ritual de lavagem das escadas da Igreja do Bom Fim como homenagem a ancestralidade representada nas figuras dessas três mulheres

 

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Marli do Bará Lonã, mãe-de-santo da Nação Jêje-Nagô em Rio Grande, ao recordar o passado das populações negras e da religiosidade de matriz africana na cidade, refere a importância das irmãs Damiana, Domingas e Gertrudes, mulheres negras que ficaram conhecidas como "as Minas do Bom Fim" :


 

“As Minas do Bonfim se destacaram exatamente porque, naquela época de grande  repressão da polícia, isso no século passado década de 50 ou 60, elas faziam uns rituais na casa da mãe Domingas, que era na rua João Alfredo. Talvez pela proximidade com a igreja do Bonfim,e também o sincretismo. Elas faziam rituais em frente a Igreja do Bonfim, no qual não sabíamos o por que de se fazer os rituais ali. Então o povo batuqueiro, quando sabia que elas estavam lá corria pra lá, pra assistir as rodas que elas faziam ali. Então todos os anos nós vamos a Igreja do Bonfim e lavamos ali, com água, perfume e flores. Mas a nossa lavagem do Bonfim não tem nada a ver com a lavagem em Salvador/Bahia. Aqui nós estamos fazendo uma homenagem às Negras Minas do Bonfim, como elas eram chamadas. Então ali nós tocamos nossos tambores, cantamos nossas rezas para os nossos orixás em uma saudação e respeito a essas mulheres corajosas que expuseram suas roupas brancas, sem medo de nenhuma represália. E digamos que elas foram as primeiras a saírem na rua com o Axó.”


 

Segundo a memória batuqueira, as Minas do Bom Fim residiam nos fundos da Igreja do Bomfim (localizada na rua Duque de Caxias, em Rio Grande) até meados da década de 1950. A pesquisadora Tânia Camargo, a partir de depoimento colhido junto à Ialorixá Alzenda de Iansã de Iansã, cerca de 75 anos de vida religiosa, mãe-de-santo da Nação Nagô em Rio Grande, informa que:

 

"As negras minas que eram do Nagô dançavam vestidas de baiana na frente da igreja do Bonfim, na rua Duque de Caxias, e faziam romaria até a igreja da Nossa Senhora da Conceição, na rua Francisco Marques, ou vice e versa. [...] Ao falar das negras vestidas de baiana que lembram os tempos de menina, Ialorixá Alzenda destaca a Tia Damiana de Oxum, tão delicada, trazendo sempre um balaio de vime com flores e balas que distribuía às crianças, ao chegar ao terreiro de Mãe Margarida de Iansã" (Camargo, 2013, p. 111-112).

 

Importante salientar que a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, um dos pontos da referida romaria, foi construída por uma Irmandade originalmente criada por negros libertos em 1814. Mesmo que nas décadas seguintes tenha sido progressivamente apropriada pela sociedade branca da cidade, a Igreja permanece como uma referência para a comunidade afro religiosa, mediante o acionamento do sincretismo entre N. S. da Conceição e a orixá Oxum.
 

Bibliografia:

 

CAMARGO, Tania Garcia. O culto jeje-nagô e as dimensões educativas ambientais dos mitos yorubás (orixás). Dissertação (Mestrado em Educação Ambiental). Rio Grande: FURG, 2013.

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Entrevista com Mãe Marli do Bará Lonã (Marli Charão).

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